segunda-feira, junho 01, 2020

A subida na escala de valor (parte II)

Parte I.

Quando se é só fabricante é-se price-taker não price-maker.

Qualquer organização pode praticar a exploitation e/ou a exploration.

No tal suposto equilíbrio académico no Estado 1 a maioria das organizações aposta na exploitation.
Estavam todos embalados no sono do tal Estado 1 quando a China chega ao jogo.
De forma mais ou menos acelerada a população de empresas começa alterar-se, a quantidade de empresas:

  • na gama baixa sofre uma razia muito, muito grande - especulemos, ao fim de alguns meses, 65% destas empresas desaparecem  
  • na gama média-baixa - especulemos, ao fim de alguns meses mais, 80% destas empresas desaparecem 
  • na gama média-alta - especulemos, ao fim de alguns meses mais, 10% destas empresas desaparecem. Algumas empresas, poucas, conseguem transitar da gama média-baixa para a gama média-alta 
  • na faixa topo de gama - especulemos, nenhuma empresa desaparece e até algumas da gama média-alta conseguem transitar para a gama do luxo
  • por fim, na faixa do luxo - especulemos, não houve alterações.
Isto é o que acontece nos primeiros meses de um choque económico negativo, a mortandade empresarial começa a crescer e assim vai evoluindo ao longo do tempo. O sistema está em desequilíbrio, as empresas em sofrimento e a falecer, a maioria, e outras a conseguirem trepar mais além. O que está a acontecer é o que aprendi há muitos anos com o exemplo finlandês:
"It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled."Mas, e como isto é profundo:"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants." 
O que está a acontecer é o que Nassim Taleb tão bem traduz em algo como, os sistemas económicos não aprendem porque as empresas individualmente aprendem, poucas são capazes de evoluir. Os sistemas a nível colectivo aprendem e evoluem sobretudo através do mecanismo de selecção: as empresas que reduzem a capacidade de adaptação do todo, as empresas que não evoluem são eliminadas, desde que haja skin in the game. Quando se olha para o agregado parece que houve uma evolução, quando afinal houve uma substituição. Daí a minha preocupação com o prolongamento do lay-of.

Quem olhar para os dados da produtividade agregada do sector, ou para os preços médios praticados no sector ao fim de vários meses de crise instalada vai perceber duas coisas:
  • aumento importante da produtividade agregada;
  • aumento importante do preço médio praticado.
É a velha estória metafórica acerca da média de golos que conto nesta série. Um português comia 5 frangos e outro 3. Se o que comia 3 morrer, a média sobe logo de 4 para 5.

Sobre este Estado 2, por agora, não vou dizer que está em equilíbrio, é um autêntico plano inclinado. 

É claro que quer as empresas em dificuldades, quer algumas pessoas dispensadas das empresas encerradas começam a fazer experiências com alterações ao modelo de negócio que conheciam, na expectativa de encontrar um novo alicerce sobre o qual possam recomeçar. Quando já se perdeu tudo, e não se sabe mendigar, não há mais nada a perder, tudo pode ser posto em causa.

Continua com produtividade, competitividade, preços e nível de vida.

Sem comentários: