quarta-feira, setembro 13, 2017

Ainda acerca da produtividade

Ontem em "Será que...?" comentei um artigo de opinião sobre a produtividade e o facto de ela ter sido mais baixa em 2015 do que em 2008.

Outra linha de abordagem ao tema pode passar pelo que procuro formalizar neste postal.

O mundo industrial, o mundo em que os indicadores económicos que usamos actualmente foram forjados, era um mundo muito linear:
Ainda hoje temos um imposto com um nome que cristaliza o pensamento dessa época. IVA = imposto sobre o valor acrescentado. Naquela cadeia acima, cada interveniente acrescentava valor até que ao chegar ao cliente final ele era destruído por consumo.

Acontece que nos dias de hoje, cada vez mais e mais intensamente o valor é co-construído, é contextual, é subjectivo. E as interacções entre os actores deixaram de ser lineares. Por exemplo, quando o antigo "cliente final" vai à internet e avalia o hotel onde esteve ... como é que pode ser visto como o último elo de uma cadeia? Pode ser o influenciador que convence um outro potencial cliente a optar por esse mesmo hotel.

Num mundo em que vez de transacções as interacções são cada vez mais importantes, e interacções cada vez mais variadas e densas:
Talvez os indicadores desenhados para o mundo industrial não sejam capazes de medir a crescente parte de valor gerado nestas interacções que não apareciam no radar industrial.

Talvez a produtividade medida seja mais baixa não porque é mais baixa mas porque os algoritmos de cálculo estão obsoletos.

Ainda ontem, no âmbito de uma auditoria interna ao sistema da qualidade de uma empresa, dizia a um aditado para não se preocupar com os valores crescentes dos custos da não-qualidade que implementaram este ano. Recordei o velho livro de Campanella e da lição que aprendi e que confirmo uma e outra vez: nos primeiros anos de cálculo dos custos da qualidade eles aumentam sempre. Porquê? Por que o desempenho está pior? Não! Porque estamos a aperfeiçoar o algoritmo de cálculo e vão aparecendo item importantes que nos tinham escapado na iteração anterior.


2 comentários:

João Pinto disse...

Percebo a intenção, mas quando está a contabilizar o VAB, mesmo que o "cliente final" antigo seja também um influenciador, o valor pago pelo cliente final repercutirá o valor acrescido pelo influenciador. Por isso, pelo menos neste aspeto, o VAB (e o PIB) continua a mostrar o real valor acrescentado...

CCz disse...

Preciso de trabalhar melhor a ideia. O exemplo do influenciado era só mesmo um exemplo dos papéis múltiplos que podem ser desempenhados. No limite a ideia não tem pernas para andar, para justificar.