quinta-feira, dezembro 17, 2015

O anónimo da província versus os lisboetas da corte

Há coisas...
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Há tempos, escrevi aqui sobre um doutorado em Economia que na RTP3 desconsiderou a economia baseada nas exportações porque, segundo ele, as empresas exportadoras praticam salários mais baixos que as empresas que trabalham para e vivem do mercado interno. (Recordar "um atestado de desconhecimento da realidade" de Outubro de 2015)
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Segundo o modelo mental desse doutorado, as empresas exportadoras portuguesas exportam com base no preço, logo têm de pagar baixos salários.
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Em Junho de 2011, durante a campanha eleitoral que levou Passos Coelho a primeiro-ministro, escrevi sobre a campanha da TSU em "É assim tão difícil perceber este fenómeno? (parte II)":
"Se me vendem a redução da TSU para tornar as empresas que exportam mais competitivas não engulo. Tirando o caso das commodities, associadas a grandes empresas, o preço não é o order-winner das nossas exportadoras.
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Se me venderem a redução da TSU para facilitar a vida às empresas que vivem do mercado interno concordo, o grosso do emprego está aqui e estas empresas vão viver tempos terríveis, o aumento futuro do desemprego virá sobretudo daqui, e tudo o que for feito para lhes aliviar o nó na corda que vai asfixiando o pescoço das empresas será bem vindo."
Entretanto, na Segunda-feira tive um pouco de paciência para aguentar ouvir, durante alguns minutos, uns lisboetas a falarem sobre as implicações do aumento do salário mínimo (no programa Prós e Contras da RTP1). Só falavam sobre o impacte do salário mínimo sobre as empresas exportadoras. No espaço de tempo que os ouvi, não retive nenhuma preocupação com as empresas que vivem e trabalham para o mercado interno, as empresas não exportadoras.
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Por isso, em resposta a um comentário ao postal de Terça-feira passada, "Fiquei surpreso... mas sou um anónimo engenheiro da província", escrevi:
"btw, o pouco que vi do prós e contras de ontem vai contra a minha narrativa. os sectores exportadores são os que podem melhor acomodar pequenos aumentos do SMN, o mercado interno é que trama tudo."
O título do postal de Terça-feira é mesmo certeiro, recordo este outro postal de Setembro último "Apesar de não passar de um anónimo engenheiro da província".
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Ontem, no Twitter, via @mlopes, tive conhecimento deste estudo "Performance Di erences between Exporters and Non-Exporters: the Case of Portugal". Nele, pode ler-se:
"most of the literature agrees that exporters display superior productivity, size and age than non-exporters. More, they pay higher wages to their workers. Regarding profitability, no clear pattern has emerged yet between these two types of firm. So, with a sample of Portuguese manufacturing firms and considering the period 2008 to 2012, we perform OLS and Pooled OLS regressions for several measures: productivity, profitability, wages, size and age. The results are clear: In most of these measures, being an exporter per se has a positive impact. This means that, in our sample, exporters are more productive, pay higher wages, employ more workers and are older firms than their purely domestic counterparts. For profitability, whilst the results mostly confirm our hypothesis, they are not as consistent as those for other measures. In short, our findings are overall in line with the majority of the literature reviewed and the hypotheses postulated.
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exporters display in general higher values for the characteristics under analysis, when compared with their purely domestic counterparts. On average, exporters are 47% more productive (in terms of labour productivity), employ over twice more employees and pay 24.6% higher wages per worker."
Leio este estudo, em sintonia perfeita com a minha experiência e com a minha narrativa e... penso em todos aqueles lisboetas da corte, na oposição e da situação, que continuam a debitar lengalengas do tempo em que Portugal era a China da Europa antes de haver China "fábrica do mundo".
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E o doutorado de Economia da RTP3, ... a quantidade de alunos, futuros profissionais, que vai contaminar ao longo da sua vida docente...

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