quarta-feira, julho 29, 2015

Uma dúvida sincera

No Caderno de Economia do semanário Expresso do passado dia 25 de Julho, encontro na primeiro página uma coluna assinada por Daniel Bessa de onde retiro o seguinte trecho:
""O que bloqueia Portugal é a dificuldade de as estruturas económicas se adaptarem a um novo contexto de competição internacional"
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Esta afirmação é fortíssima. É curta. É incisiva. Enuncia, para o país, o maior dos problemas, e uma boa causa. Na boca, e nas mãos, de alguém consequente, que queira resolver o problema, identifica um campo de actuação excluindo outros.
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Seduz-me. Acompanharia, contra tudo e contra todos, quem, tendo-a enunciado, se dispusesse a cumpri-la, de modo consequente."
Recordo que Daniel Bessa previa estas coisas em Março de 2005! Portanto, dupla precaução sempre.
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O mesmo Daniel Bessa que em Setembro de 2007, na mesma coluna, escreveu:
"... faltou sempre o dinheiro que o "Portugal profundo" preferiu gastar na "ajuda" a "empresas em situação económica difícil"
Como o autor da frase inicial, do trecho sublinhado, é António Costa, não creio que ele esteja a referir-se ao Estado deixar de atrapalhar as empresas e sair do caminho, apostando na Via Negativa.
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O que serão na cabeça de António Costa estas "estruturas económicas"?
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Como escrevi aqui:
"Numa economia aberta esta mensagem e terapia é necessária para os sectores não transaccionáveis quando o sistema fica insustentável. A mensagem é irrelevante para os sectores transaccionáveis porque o acerto ocorre a toda a hora e momento."
Na sequência deste postal de Fevereiro de 2012 com dados de 2010, aqui vão dados relativos a 2012.
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Reparem, de entre os 26 CAE que compõem a produção industrial portuguesa, em 2012,

  • em 16 deles mais de metade da produção é para exportação;
  • em 2 deles mais de 40% é para exportação;
  • o CAE 10 tem a ver com a indústria alimentar e cresceu 2 pontos percentuais entre 2010 e 2012;
  • o CAE 11 tem a ver com a indústria das bebidas e cresceu 5 pontos percentuais entre 2010 e 2012;
  • o CAE 17 tem a ver com a "Fabricação de pasta, de papel, de cartão e seus artigos" e ... não acredito naquele valor, é impossível só cerca de 25% da produção ser exportada.
Acham mesmo que as estruturas económicas industriais não se adaptaram a un novo contexto de competição internacional?
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Costa fala do que não sabe ou está a falar do quê?
Dados retirados de "Estatísticas da Produção Industrial 2012" do INE


2 comentários:

Miguel Pires disse...

"Aplicar um modelo de Balance Scorecard (criação de indicadores de desempenho e de controlo financeiro) a todos os organismos públicos."

- Programa eleitoral da coligação 2015

Será que eles sabem o que é? Enfim... (suspiros)

CCz disse...

Bom para empresas de consultoria dos amigos.
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Basta ir ao portal dos contratos e ver os valores uber-inflacionados pagos pelos organismos públicos. Algum funciona?