quarta-feira, maio 13, 2015

Convém estudar mais e, comparar antes de fazer acusações fáceis

Uma das coisas que me dá algum conforto intelectual, muito pessoal, é olhar para o que escrevi ao longo dos últimos 11 anos neste blogue e, não ter muita coisa que possa dizer que errei ou que mudei de opinião.
.
Sinto-me bastante longe das piruetas de Portas sobre o euro.
.
Sinto-me bastante longe das macaquices de Cravinho sobre as SCUT.
.
Estava com Basílio Horta em 2010, a elogiar as PME e os números das exportações e, contínuo agora, apesar de Frasquilho, a elogiar as PME e os números das exportações. O desempenho das PME e exportações não se devem aos governos, ocorrem apesar dos governos socialistas, este e o anterior.
.
Julgo que nunca escrevi aqui no blogue, qual Quesado, claro que com menos figuras de estilo e menos rococó, algum manifesto a pedir para arrasar com os empresários tugas, por serem os piores do mundo. Confesso que há 10/12 anos pensava algumas vezes nisso mas não o expressava. Hoje, posso dizer convictamente, que não partilho dessa opinião:
Estamos a falar de empresários na sua maioria sem grande escolaridade, talvez por isso tenham empreendido mas isso é outro assunto, e acompanhem comigo, rapidamente, o que tiveram de enfrentar:
  • 1986 - adesão à então CEE. A "nata" das PME portuguesas, as que competiam pelo segmento médio e alto, desapareceu com o fim do proteccionismo e das barreiras alfandegárias, não aguentando a concorrência europeia no seu campeonato;
  • 1986-1993 - seguiram-se 6/8 anos do sucesso do modelo "Portugal país de mão de obra barata na CEE". A taxa de desemprego chegou aos 3,9%. 
  • Depois, a abertura da UE aos países de Leste e a chegada do factor China, provocaram uma tremenda disrupção na economia transaccionável tuga, que só em 2008 começou a recuperar. Entretanto, enquanto na frente externa tinham de enfrentar os preços chineses, na frente interna eram tratados com desdém pelo parlamento e governo;
  • Em "Portugal aproveitou bem os fundos comunitários?" e "Reflexão sobre a competitividade, com ou sem euro" documento melhor o que se passou.
Portanto, os empresários tugas, com fraca escolaridade, sem tradição de recorrer a consultores externos, sem grandes equipas de gestão internas, são considerados maus porque não foram capazes de fazer face à disrupção chinesa (recordar a diferença de custos de mão-de-obra). Agora reparem nesta procissão:
"There are fifty-six companies on this list, and it is hardly complete. Look at the names. These were not the losers—these were the winners! These were not our worst management teams—these were our best! But every single one of them missed in their efforts to catch the next wave. Given this track record, what in the world makes you think you won’t too?" (Fonte)
Esta lista identifica uma série de empresas cheias de MBA, de CEO formados nas mais reputadas escolas, apoiados pelas maiores empresas de consultoria e, no entanto, foram incapazes, também eles, de resistirem aos seus "chineses".
.
Convém estudar mais e comparar, antes de fazer acusações fáceis.




Sem comentários: