quinta-feira, março 28, 2013

A realidade ilustrada pelos números

Segundo o último Boletim Mensal da Economia (nº 3/2013):
Fico a reflectir na realidade ilustrada pelos números...
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Quase 15% das nossas exportações de bens encaixam-se na categoria de "Máquinas" e continuaram a crescer a mais de 6% em valor homólogo em Janeiro passado.
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Quase 13% das nossas exportações de bens encaixam-se na categoria de "Químicos" e continuaram a crescer a mais de 18% em valor homólogo em Janeiro passado.
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Quase 12% das nossas exportações de bens encaixam-se na categoria de "Agro-alimentares" e continuaram a crescer a mais de 11% em valor homólogo em Janeiro passado.
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E apesar das exportações terem crescido 5,6% homólogos em Janeiro, as exportações de "Material de transporte" caíram mais de 13%.
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BTW, as exportações para Espanha cresceram 3,3% no mesmo mês de Janeiro.

7 comentários:

Unknown disse...

Boa tarde,

Lamento apenas agora ter encontrado o seu blog, sendo que acho natural que venha a ser um frequentador assíduo do mesmo.

em relação às suas análises, no geral, concordo com a maioria, tendo contudo algumas discordâncias em relação a alguns pontos particulares, mas creio não fazer sentido andar a ver posts antigos e comentar agora.

em relação às exportações em si, o valor é fracamente positivo, mesmo retirando a componente de combustíveis.

os químicos têm um aumento significativo, que creio estarem directamente relacionados com a fábrica da Artlant em Sines, que per si, deve contribuir para uns 30 milhões de euros mensais de exportações "adicionais", dado que é ainda recente.

o sector alimentar também tem um percurso muito positivo, fruto de um investimento assinalável feito ao longo dos últimos anos, seja em áreas como vinhos, azeite ou frutos, onde foram efectuados inumeros inevstimentos ao longo dos últimos anos, e espera-se que continue este crescimento, até porque muito dos investimento não estão ainda em velocidade de crescimento (exemplo: olivais no Alentejo que ainda não estão a 100%; ou em frutos como Kiwi's na zona do Marco ou frutos vermelhos um pouco por todo o lado, em que os investimentos realizados ao longo dos últimos ano terão efeitos a médio prazo ainda).

a grande questão que pretendo levantar é exactamente o investimento. ou seja, os crescimentos assinaláveis nas exportações, a médio prazo, apenas são sustentáveis mediante investimentos, que de momento desapareceram de vista. aliás, se virmos no presente, investimentos relevante vemos apenas alguns nas áreas alimentares, a Embraer, a Ria Stone em Aveiro e pouco mais. os que existem são essencialmente de renovação de fábricas já existentes, como sejam a AutoEuropa ou a Leica em Famalicão.

os combustíveis aumentaram significativamente as exportações depois dos investimentos realizados em Sines e Matosinhos (os maiores de sempre em Portugal). as exportações de pasta e papel aumentarem significativamente depois dos investimentos realizados em Setubal pela Portucel. o mobiliário teve um "boom" assinalável depois da entrada em funcionamento das fábricas da IKEA em Paços. as exportações de conservas estão em crescimento depois dos vários investimentos anunciados (Peniche, Ramirez e Cofaco, além da nova fábrica da Poveira).

ou seja, por norma, há uma relação forte entre investimento e exportações. certo que nos últimos anos existia ainda bastante capacidade instalada não utilizada, contudo, a médio prazo, é insustentável, até porque muitas empresas economicamente sustentáveis têm caído, retirando capacidade exportadora.

aliás, sector que tem crescido bastante nos últimos tempos é o calçado, e que é sintomático de um sector que não precisa de grande investimento em capital para crescer.

em relação ao sector "material de transporte", por acaso até estou optimista, e creio que aumentará a sua produção. a PSA reforçou a produção em Mangualde; o Mitsubishi e a Toyota Caetano já anunciaram aumento significativo da produção; e a AutoEuropa tem em curso um investimento significativo numa nova plataforma, que acredito se traduzirá num novo modelo. além disso, existe ainda o projecto da Embraer.

em relação à Espanha, tenho ideia que os próximos anos serão de aprofundamento da relação entre sectores. as marcas espanholas de retalho têxtil vão cada vez mais subcontratar a Portugal, tal como a cada vez mais importante industria automóvel em Espanha vai recorrer a componentes produzidos em Portugal.

CCz disse...

Cara Patrícia,

Queria mesmo dizer "o valor é fracamente positivo" ou "francamente positivo"?

Quanto ao tema do investimento, confesso que não sei responder à sua questão.

Já agora uma outra confissão, aprecio mais os pequenos investimentos porque, normalmente, geram mais emprego por euro do que os grandes investimentos. É claro que os grandes investimentos são bons para a balança comercial mas normalmente geram poucos postos de trabalho

CCz disse...

Também concordo consigo "em relação à Espanha, tenho ideia que os próximos anos serão de aprofundamento da relação entre sectores. as marcas espanholas de retalho têxtil vão cada vez mais subcontratar a Portugal"
mas o que me dói é a incapacidade dos empresários têxteis portugueses em subirem os preços... Espanha compra têxteis mais caros em Marrocos do que em Portugal. Recordar http://balancedscorecard.blogspot.pt/2012/10/para-reflexao_16.html

Bruno Fonseca disse...

Boas meu caro,

não é PAtrícia, é Bruno, infelizmente quando coloquei o post o google assumiu a conta da minha mulher =)

em relação ao "francamente vs. fracamente", queria dizer francamente. os resultados são bastante positivos. até perante a dificil situação da economia europeia.

quando falo no tema de investimento, é apenas para referir que tão importante como o aumento das exportações, é a sua própria sustentabilidade.
também concordo que o pequeno investimento por norma é mais eficaz que o grande, mas não vejo "pequenos" investimentos em quase lado nenhum, excepto na área alimentar e calçado. no têxtil não me lembro da última fábrica que tenha sido criada. quando muito, vêem-se "traders" ou agentes a ficarem com empresas que estão em insolvência, de resto, não vejo investimentos significativos.
quem diz têxtil poderia dizer metalomecânicas.

o grande investimento tem uma vantagem significativa, não tanto em termos de emprego, mas em termos de "spill-over". a AutoEuropa criou uma série de oportunidades a diversas empresas portuguesas, que se especializaram na área automóvel. a Embraer creio que terá um efeito semelhante (o sector dos moldes provavelmente será o que mais beneficiará).

em relação ao preço dos têxteis, podemos estar a comparar coisas diferentes. os espanhois compram a Marrocos produtos acabados, muitas vezes a peça só vai lá para confecção. portanto, é normal que o preço seja mais alto, contudo, o valor acrescentado pode não estar nessa componente. é como a questão do fabrico do ipad's na China. o montante de exportação é muito superior na China, mas a maior parte do valor acrescentado fica na Coreia do Sul. acho que acontece algo semelhante nos têxteis em Marrocos. por norma, a confecção é a parte que menos valor acrescentado tem, contudo como finaliza a peça, é quando o preço é mais alto. mas a margem é esmagada, hoje em dia já se contratam minutos de confecção.

em relação ao sector tÊxtil, nas análises que faz, deve-se também ter em conta o efeito do preço do algodão. as exportações podem estar um pouco empoladas porque o preço do algodão teve um aumento de preço considerável.

um bem haja!

CCz disse...

Boa tarde caro Bruno,

A sua explicação sobre o têxtil e os preços em Portugal e Marrocos, para fornecimento a Espanha parece-me muito interessante, faz sentido e espero que seja a justificação mais adequada.

Quanto ao efeito "spill-over", compreendo-o, lido com exemplos concretos de empresas que nasceram ou evoluíram a partir daí. Receio é que à medida que a integração das cadeias de fornecimento cresce, os fornecedores internacionais acompanham cada vez mais os clientes. No início dos anos 90 trabalhei num projecto com uma multinacional japonesa, daquelas com 4/5 mil funcionários em Portugal numa única fábrica e colaborava com uma equipa dedicada a substituir fornecedores japoneses por fornecedores europeus, de preferência portugueses. Hoje, já não sei se é assim, até porque algumas vezes sinto que se está perante aquilo a que no blogue costumo chamar de pedofilia empresarial.

Quanto ao investimento anónimo, vou vendo parques industriais novos a serem ocupados, por exemplo em Vale de Cambra, vejo edifícios industriais abandonados a voltarem a ser ocupados em São João da Madeira, vejo angolanos a comprarem PMEs de calçado, têxteis e mobiliário... é só a minha amostra.
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Escreve em algum sítio? Fiquei com vontade de acompanhar as suas reflexões.

Bruno Fonseca disse...

boas de novo!

agradeço as suas respostas, como disse antes, tenho pena de apenas agora ter conhecido o seu blog.

em relação ao efeito spill-over, é verdade que existe uma cada vez maior tendência para os fornecedores acompanharem os fabricantes, temos como exemplos portugueses mais mediáticos a Sodécia e a Logoplaste. mas a nível de spill-over, existe sempre um efeito, e muitas vezes, permite a essas mesmas fornecedoras acompanharam mais tarde. mas por exemplo, a AutoEuropa, especialmente quando tinha lá a Ford (que tinha uma maior componente de subcontratação, tem uma mentalidade mais de multinacional que a VW), permitiu criar uma verdadeira industria automóvel em Portugal. aliás, a maior exportação em Portugal é mesmo em automóveis e componentes. por exemplo, as maiores têxteis hoje são dedicadas ao mercado automóvel. e o sector dos moldes em Portugal hoje vive quase em exclusivo do sector automóvel. é por isso que acredito que o projecto da Embraer pode ter um efeito tremendo à indústria nacional. não falo apenas das multinacionais que vão intalar-se em Évora, mas sim de várias PME's que se vão capacitar para tal. aliás, uma das melhores medidas do AICEP actualmente é exactamente a capacitação de várias empresas como fornecedoras de grandes empresas. pegaram em fornecedores da EDP, GALP, etc, e fazem road-shows a players internacionais das suas capacidade e preços. de verdade, acho que o fundamental é mesmo investimentos de pequena monta, mas os grandes têm efeitos importantes. aliás, um dos principais é que por norma, dessas grandes empresas, muitas vezes saiem quadros que criam a sua empresa, conheço várias exemplos desses.

em relação aos investimentos que se vê hoje em dia, continuo a achar que estão essencialmente focados no calçado e agricultura. no calçado, é um mercado sem barreiras á entrada, não é preciso capital de monta, e desde que haja mão de obra com sensibilidade, pode-se entrar. na agricultura, existem vários investimentos em curso, os pomares de peras, kiwis, os frutos vermelhos, até porque existem vários apoios para tal.
de resto, não partilho da sua visão. vejo muitos poucos exemplos de investimentos. na cerâmica só conheço a nova do IKEA. no têxtil, nos últimos 3 anos só conheço 1 investimento de raíz (no caso uma fábrica que estava desactivada). na metalomecânica, existem muito poucas inovações. na área dos materiais de construção, zero também, pelo contrário.
referiu Vale de Cambra, de verdade, do que conheço, só conheço um pavilhão industrial em construção. não vejo muito mais por lá.

Bruno Fonseca disse...

por exemplo, refere várias vezes o exemplo do mobiliário, e com razão. de verdade, existem algumas pequenas "boutiques" quase de mobiliário, em que cada peça custa milhares de euros, mas é algo muito focalizado, não são mais do que 3 ou 4 empresas. de resto, existe um claro olhar lá para fora, mais visitas a feiras, etc. mas se formos a Paredes / Paços de Ferreira, vemos que pelo menos um terço das empresas terá fechado nos últimos anos. como têm crescido tanto as exportações? em grande medida por causa da fábrica da IKEA e do maior fornecedor da mesma de sofás (Aquino), que tem investido imenso em capacidade produtiva. ou seja, as exportações são, em grande medida, por causa de contratos com a IKEA. tal como existe o mesmo com a INDITEX.

quando refere no têxtil, é curioso, os unicos investimentos que vejo, são da parte de agentes / traders, que para segurarem os seus fornecedores compram. não vejo muito mais.

é como no mobiliário. todos os dias caiem empresas, mas não se vê quase nada a abrir. portanto, a médio prazo teremos um problema, porque a capacidade de crescimento tem um limite se não houver investimento.

sem querer alongar demasiado, quando refere investimentos angolanos, por norma, são investimentos mais para "segurar" algumas empresas ou para buyot's do que propriamente para reforço de capacidade produtiva ou para aumentar essa mesma capacidade. os poucos investimentos que se vêm nesse sentido, por norma, são da parte de capitais de risco, que cada vez mais estão orientados nesse sentido, felizmente.

por último, não escrevo em lado nenhum. cheguei a pensar em fazer um blog apenas dedicado a "bons exemplos" de empresas em Portugal, bem feito, contudo, não percebo nada de informática. escrever aqui é o meu limite de capacidade informática.

em relação ao seu blog, está muito bem feito. discordo de alguns pontos (como é normal), mas tem uma grande vantagem: se procurar literatura ou ouve alguém a falar de estratégia, vêm sempre com os google's e as coca-colas e afins, quando isso não interessa para nada. o que me interessa é a economia real, o que faz uma metalomecanica, uma empresa de torneiras, uma têxtil isso sim interessa-me. não gosto quando se generaliza demasiado. e aí, depois de pesquisar blog's de empresas e estratégia, acho que o seu está no topo.

a nível de crítica, se me permite a sinceridade, só não gosto aquela coisa de "o Norte a salvar o país" ou "o Norte esquecido que trabalha". sou muito contra essa abordagem. se quer criticar o poder político, estou de acordo. agora, como é escrito, como por muita gente do Porto, o país é todo uma cambada de mandriões que suga o Norte. como se o pessoal da AutoEuropa não trabalhasse; como se não fosse no Interior que está concentrada a produção de olivais e vinhos; como se não fosse em Alcanena que está um exemplo de um cluster notável na área dos curtumes, que tem exportado imenso, apesar de ninguém falar dele. que na zona de Coimbra estão de verdade a nascer algumas das empresas do futuro deste país (Crioestaminal, Critical Software, Bluepharma, ISA); como se Aveiro e Leiria não concentrassem a indústria cerâmica e de moldes; como se a maior exportação de Portugal não fosse o turismo, concetrada na Madeira e Algarve. ou seja, não gosto de discursos "Separatistas", e digo isto quando vivo no Porto.

um bem haja! e continuação de um bom trabalho!