terça-feira, agosto 28, 2012

Queijo, leite, Golias, socialistas e a falta de Davids

Ontem, li isto "Queijo de Castelo Branco conquista ouro em concurso internacional" e, pensei em tantas coisas. Por exemplo:

Sobre o queijo de Castelo Branco DOP Sabores de Idanha, que conquistou uma medalha de ouro no concurso internacional Great Taste Awards 2012, interrogo-me:
  • O que fará a Cooperativa de Produtores de Queijo da Beira Baixa com este prémio? 
  • Será que vai usar o prémio para subir preços?
  • Será que vai usar o prémio para entrar em novos mercados?
  • Será que vai usar o prémio para fugir ao rolo compressor da grande distribuição?
  • Será que vai usar o prémio para ganhar notoriedade?
  • Será que vai usar o prémio para se diferenciar?
Quanto ao sector leiteiro... há tanto por fazer...
"O preço que os compradores pagam aos produtores de leite atingiu, em Junho, o valor mais baixo em ano e meio e está a cair quase 10% face ao valor que era pago no início de 2012."
O vice-presidente da Aprolep (Associação dos Produtores de Leite de Portugal) dá o exemplo dos cereais:
"O preço do trigo foi responsável pelo aumento (do preço) do pão, mas no (sector) do leite não se consegue repercutir o aumento dos custos de produção no preço pago ao produtor."
 Qual o sentido desta comparação? O preço dos cereais pagos ao produtor subiu porque a oferta baixou, porque a produção baixou. Ainda agora se lê que a quebra na produção da quantidade de vinho, que se prevê para este ano, poderá permitir subir preços.
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O que está a acontecer à oferta de leite? Porque baixa o preço ao produtor de leite? O artigo refere que o sector está à beira da extinção... o artigo refere:
"o sector já teve 80 mil produtores no continente e actualmente possui quatro mil"
E a produção de leite, o que está a acontecer à produção de leite em Portugal? Segundo esta fonte:
"Em 1993, existiam em Portugal cerca de 84000 produtores de leite; Em 2010 restavam apenas 8400. Em 1983, havia 1300 produtores no concelho de Vila do Conde, restam 300. Há 10 anos, havia 14 produtores na freguesia de Mosteiró, sobrevivem 3 no presente.
Ao logo de décadas, a desistência de produtores foi compensada pelo aumento de dimensão das explorações que permaneceram e da produtividade por animal. Contudo, desde 2008 a situação alterou-se, registando-se a quebras na produção de leite em Portugal, devido às dificuldades dos produtores."
Segundo esta outra fonte:
A minha interpretação:

  • Um aumento da produção de leite, a commodity alimentar por excelência, em praticamente toda a Europa, Portugal incluído (a nível da UE o aumento foi de 2,7%);
  • Uma redução do consumo em Portugal e no resto da Europa, dada a crise;
  • Se não há diferenciação no leite... só há uma curva para a lei da oferta e da procura;
  • Como vivemos numa comunidade económica com livre circulação de bens, o excesso de produção é escoado através da negociação entre as partes interessadas.
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Claro que logo surgem as vozes socialistas procurando que os consumidores paguem mais "Cristas promete ajudar produtores de leite".
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Talvez fizesse mais sentido olhar para o exemplo dos outros, talvez fizesse mais sentido estudar como se podem reduzir custos e desperdícios na produção. Interessante como no caso da Suíça se colocou claramente a situação da concentração:
Que ministro da Agricultura é que tem coragem de colocar abertamente essa questão e apresentar as vantagens da mesma? O último a dizer umas verdades foi banido até pelo seu próprio partido.
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Sem falar abertamente, nunca se terá um caminho, vai-se remediando, vai-se tentando amortecer os estragos, enquanto o vector histórico da concentração vai avançando inevitavelmente, porque todos competem da mesma maneira. O mal de uns, é o bem de outros:
"Após duas décadas de "altos e baixos", a empresa sucumbiu às dificuldades económicas que flagelam o sector e a maioria dos 230 animais já foram vendidos a outros produtores ou enviados para o matadouro."
Talvez fizesse sentido perguntar como seria o sector, como seria o nível de vida dos produtores se a concentração não se tivesse realizado? Em Portugal a dimensão média de uma exploração é de 20 cabeças (ver também estes números). Por isso, é que, no mesmo jornal, no dia seguinte, aparece este título "Fim das quotas leiteiras não retira confiança à agricultura açoriana", com base na conversa com um produtor que fez isto:
"Começou com 40 vacas do pai num terreno de 30 hectares ("era propriedade do meu bisavô"). Agora, dirige uma exploração modelar mecanizada e informatizada com 560 animais, que dá trabalho directo a 4 homens e produz cerca de sete mil litros por dia."
O negócio é preço, o negócio é custo, a menos que enveredem por outras estratégias:
Recomendo a leitura, depois do exemplo açoriano e do destino da maioria das 230 vacas, deste postal "Como surgem os Golias e pistas para o parecimento de Davids".
Os preços praticados em Portugal em Janeiro de 2012, 32,4 cêntimos por kg de leite podem ser comparados com os de outros países europeus aqui:


2 comentários:

CCz disse...

http://www.publico.pt/economia/noticia/industriais-do-leite-criticam-estudo-sobre-o-preco-do-leite-1585723

CCz disse...

http://www.noticiasaominuto.com/economia/84099/pre%C3%A7os-de-lactic%C3%ADnios-e-ovos-em-portugal-acima-da-m%C3%A9dia-europeia#.UcYX8vlllsU