quarta-feira, maio 30, 2012

Prepare-se para 5 de Junho (parte II)

Parte I.
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"a Comissão encara como eixos centrais do futuro plano industrial: investimento numa rede europeia de energia e aposta nas energias limpas, na renovação da construção civil (tornando cada vez mais os edifícios em pequenos produtores de energia solar ou eólica) e no desenvolvimento dos carros eléctricos, eixos divididos entre grandes e pequenas empresas." (1)
"Portugal é um país com muitas pequenas e médias empresas (PME) e, para mim, o turismo é um sector importante a apoiar. Trata-se de um sector-chave que vale 11% do PIB. Atrás do turismo vem o sector da construção, o agro-alimentar e o têxtil." (2)
"Bruxelas quer ligação entre Sines, Lisboa e Madrid a 200 km/h"

Eu não disse?


15 comentários:

Carlos Albuquerque disse...

A austeridade em Portugal foi imposta apenas com algum sentido económico e sem sentido político.

Não se vence uma guerra dividindo mais a população e atirando com os sacrifícios apenas para alguns.

Era realmente bom realinhar a economia e a força de trabalho de uma forma mais saudável, virada para as exportações. Mas já há demasiada gente a ficar com demasiado pouco e não há sistemas nem recursos para requalificar e recuperar pessoas.

CCz disse...

"Não se vence uma guerra dividindo mais a população e atirando com os sacrifícios apenas para alguns."
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Mas quem é que não está a fazer sacrifícios?

CCz disse...

"Mas já há demasiada gente a ficar com demasiado pouco e não há sistemas nem recursos para requalificar e recuperar pessoas."

Isso não é baixar os braços?

Isso não é reconhecer que Alberto João Jardim estava certo?

Isso não é reconhecer que temos todos de pagar um imposto para suportar um sector sobredimensionado e pagar obras sem qualquer lógica económica só para criar emprego?

http://sicnoticias.sapo.pt/economia/article1575333.ece

Carlos Albuquerque disse...

"Mas quem é que não está a fazer sacrifícios?"

Quando leio aqui que os salários cairam 2,2% e sofro cortes nominais de 20%, acho que não há comparação possível.

Houve equidade no subsídio de Natal de 2011, mas acabou por aí.

"Isso não é baixar os braços?"

Mas não sou eu que baixo os braços. É a própria política governamental que agora não quer saber dessas pessoas. E se a única alternativa que elas tiverem estiver fora do sistema económico mais produtivo e exportador, quem sou eu para criticá-las?

"Isso não é reconhecer que temos todos de pagar um imposto para suportar um sector sobredimensionado e pagar obras sem qualquer lógica económica só para criar emprego?"

A única forma de evitar isso seria dar alternativas às pessoas. Se não existirem alternativas, vamos descobrir que as pessoas não são descartáveis. Numa empresa um despedimento pode ser problemático mas depois de feito a empresa pode pensar em continuar. Num país o máximo que se pode fazer aos cidadãos é mandá-los emigrar. Mas isso só resulta para uma parte das pessoas. Os que deixaram a escola para irem para a construção não podem agora ser ignorados.

CCz disse...

Como funcionário público do quadro, corre o risco de ir para o desemprego?

Acha que se o Estado pudesse despedir funcionários do quadro não o tinha já feito?

Como é que um patrão que não tem dinheiro para sustentar uma estrutura demasiado pesada para a riqueza que o país cria, pratica equidade quando não despede esse pessoal a mais?

Cerca de 1 milhão de desempregados podem perguntar, onde está a equidade?

"Os que deixaram a escola para irem para a construção não podem agora ser ignorados."

E já pensou se na base dos escabrosos números de abandono escolar em Portugal não esteve a facilidade de arranjar emprego no sobredimensionado sector da construção?

"A única forma de evitar isso seria dar alternativas às pessoas. Se não existirem alternativas, vamos descobrir que as pessoas não são descartáveis."

As alternativas, para serem sustentáveis têm de ser criadas pela economia real sem a contribuição do estado, o estado deturpa e vicia facilmente, sem querer, as relações de oferta e procura, veja o exemplo das costureiras.

Carlos Albuquerque disse...

"Como funcionário público do quadro, corre o risco de ir para o desemprego?"

Não sou "do quadro" embora tenha bastante estabilidade. Levo a sério a possibilidade de ir para a rua, embora não a considere muito provável. Mas se o argumento fosse por aí, eu não devia ter tido cortes. Além disso quando optei por trabalhar para o estado também abdiquei de outras carreiras certamente melhor remuneradas, assumindo que a maior segurança relativa fazia parte do contrato.

"Acha que se o Estado pudesse despedir funcionários do quadro não o tinha já feito?"

O estado também "não pode" cortar salários e já o fez, atropelando gravemente a Constituição. Quanto aos despedimentos tudo indica que se prepara para o fazer.

"Como é que um patrão que não tem dinheiro para sustentar uma estrutura demasiado pesada para a riqueza que o país cria, pratica equidade quando não despede esse pessoal a mais?"

O patrão também não tem dinheiro para todos os outros contratos que assinou. Haverá equidade se recolher impostos a todos os cidadãos/accionistas e/ou reduzir todos os outros pagamentos relativos a contratos.

"Cerca de 1 milhão de desempregados podem perguntar, onde está a equidade?"

Esse argumento pode ser usado para qualquer coisa. Nacionalizações, inclusivamente.

"E já pensou se na base dos escabrosos números de abandono escolar em Portugal não esteve a facilidade de arranjar emprego no sobredimensionado sector da construção?"

Já pensei quando o vi escrito por si e estou inteiramente de acordo consigo. Há bastante tempo que tinha percebido que as obras megalómanas nos iam arruinar financeiramente mas não tinha percebido até que ponto havia efeitos colaterais igualmente graves.

"As alternativas, para serem sustentáveis têm de ser criadas pela economia real sem a contribuição do estado, o estado deturpa e vicia facilmente, sem querer, as relações de oferta e procura, veja o exemplo das costureiras."

Acho o caso das costureiras deveras estranho. Com um milhão de desempregados, é uma questão de estatística que existirão muitas pessoas dispostas a trabalhar por 750 euros. O que lhes falta? Formação? As condições de trabalho são anormalmente más?

A ideia de que o subsídio de desemprego mantém alta a taxa de desemprego não bate certa com a realidade: há três ou quatro anos os subsídios de desemprego eram mais generosos mas centenas de milhar de portugueses queriam trabalhar e trabalhavam. Agora que os subsídios estão piores é que as pessoas resolveram todas deixar de trabalhar? Ou para forçar meia dúzia de oportunistas a trabalhar aceitamos destruir aquelas pessoas todas que procuram trabalho e não encontram?

Globalmente o que acho errado é a forma brusca e assimétrica como a austeridade está a ser conduzida. Os cortes bruscos na função pública e nos apoios do estado social ao mesmo tempo que o mesmo estado mantém intocáveis contratos absurdos que deviam ser alterados, mesmo que unilateralmente, e deviam ter levado à prisão quem os assinou em nome do estado.

Além do mais acho que convém não esquecer que as empresas que exportam estão a beneficiar e muito do estado que tanto se critica. É um Serviço Nacional de Saúde que mantém saudáveis muitos trabalhadores que querem trabalhar. São as universidades portuguesas que têm estado a formar muitos dos quadros que estão hoje nas empresas ou emigrados a fazer um óptimo trabalho. É o trabalho de apoio social do estado e de instituições de solidariedade que evita problemas sociais mais graves.

Parece-me que é uma ilusão pensar que se pode arrasar todo o sistema público que está na base da economia e que depois tudo vai continuar bem como até aqui.

Carlos Albuquerque disse...

O tal estado que diz que não tem dinheiro para pagar os salários dos seus trabalhadores, anda a pagar nas PPPs remunerações "que não estava prevista nos cadernos de encargos, que não foi objecto de apreciação no âmbito da análise e da classificação das propostas, que não foi espelhada no texto dos contratos principais, designadamente nas cláusulas que, nos mesmos, definiram as remunerações, e que não foi visada por este Tribunal".

CCz disse...

"Além do mais acho que convém não esquecer que as empresas que exportam estão a beneficiar e muito do estado que tanto se critica. É um Serviço Nacional de Saúde que mantém saudáveis muitos trabalhadores que querem trabalhar. São as universidades portuguesas que têm estado a formar muitos dos quadros que estão hoje nas empresas ou emigrados a fazer um óptimo trabalho. É o trabalho de apoio social do estado e de instituições de solidariedade que evita problemas sociais mais graves."

Não acha que as empresas já pagam impostos a mais? Veja, por cada trabalhador, quanto é que uma empresa paga ao estado em impostos, mais IRC, mais IVA, mais derramas, mais taxas tipo-Cristas por tudo e por nada.

CCz disse...

"Globalmente o que acho errado é a forma brusca e assimétrica como a austeridade está a ser conduzida."

Eu nem estou de acordo que se use o termo austeridade para falar do Estado, o Estado continua a aumentar os seus gastos, logo, não se pode tecnicamente falar de austeridade.

CCz disse...

"Parece-me que é uma ilusão pensar que se pode arrasar todo o sistema público que está na base da economia e que depois tudo vai continuar bem como até aqui"

Continuaria de forma diferente. As sociedades humanas são muito flexíveis e mesmo sem o paopá-Estado amanham-se

CCz disse...

"O tal estado que diz que não tem dinheiro para pagar os salários dos seus trabalhadores, anda a pagar nas PPPs remunerações "que não estava prevista nos cadernos de encargos, que não foi objecto de apreciação no âmbito da análise e da classificação das propostas, que não foi espelhada no texto dos contratos principais, designadamente nas cláusulas que, nos mesmos, definiram as remunerações, e que não foi visada por este Tribunal"."
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Só espero que exista Justiça neste país e que faça o seu trabalho, embora a Isaltino Morais School of Laws não me dê muitas esperanças.
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Só espero que as pessoas aprendam a criticar e a desconfiar dos gastos do Estado quando eles se anunciam, e não só quando chega a conta...

CCz disse...

Mas fechamos o circulo, acaba a criticar as PPP, bem vindo ao clube dos que temem o próximo dia 5 de Junho, porque se os manifestantes tiverem sucesso, pode imaginar a quantidade de novas PPP a emergir com n justificações técnicas, do mesmo calibre das que encheram as SCUTS de tráfego.

Carlos Albuquerque disse...

"Não acha que as empresas já pagam impostos a mais?"

Acho. Só que esse dinheiro não vai para os serviços que o estado deve prestar à sociedade. Este governo e os anteriores desviam esse dinheiro para outras direções.

Quanto às PPPs, há já uns bons anos que fui percebendo que eram apenas um canal para desviar dinheiro do estado. Já me dei ao trabalho de analisar as justificações técnicas no caso do aeroporto na Ota e no caso do TGV e pode crer que nem sequer resistem a uma análise minimamente cuidadosa.

Agora não penso que o papel que o estado desempenha nas áreas sociais e da educação e da saúde seja facilmente substituível pela sociedade civil. Comecei hoje a ler o livro do Jorge Buescu sobre o ensino da matemática em Portugal (Fundação Francisco Manuel dos Santos) e ele chama logo de início a atenção para o erro do marquês de Pombal quando expulsou os jesuítas: desarticulou todo o ensino em Portugal e muitas décadas depois ainda não tínhamos recuperado. Devemos aprender com o passado.

E se o papá estado não funciona, o papá mercado também não funciona. Como se pode ver num sector tão liberalizado como os serviços financeiros.

No fundo ao cortar os salários dos funcionários para gastar ainda mais dinheiro noutras despesas o estado está a enganar as empresas, pois cobra-lhes o mesmo ou mais pelos serviços à sociedade mas oferece menos serviços e menos qualidade.

CCz disse...

Notando o seu interesse pelo ensino e pela Matemática, revolta-me um sistema que não expulsa uma professora de Matemática que dá aulas ao 10º de escolaridade através de powerpoints...

Carlos Albuquerque disse...

Ainda que possa em algum momento ser útil usar o powerpoint numa aula de Matemática, não estou a ver como é possível basear todo o ensino do 10.º ano em apresentações.

Quanto à organização das escolas, confesso que não a percebo de todo. Conheço um caso de um professor que ao ver um aluno a agredir outro resolve aproximar-se para tentar parar a agressão. O próprio professor foi agredido, caiu no chão e perdeu os sentidos. Foi parar ao hospital. A escola pôs um processo disciplinar... ao professor.