domingo, fevereiro 12, 2012

A lição do CUT da Alemanha

Ontem à noite no twitter escreveram-me:
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 "O nosso problema são os custos unitários do trabalho (CUTs) que são muito altos"
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A afirmação veio na sequência de uma troca de argumentos em que a outra parte defendia que os salários portugueses tinham de baixar porque são muito altos.
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Voltando à minha base sobre a economia portuguesa. A economia portuguesa são 3 economias em simultâneo:

  • a dos funcionários públicos;
  • a que vive do mercado interno;
  • a que exporta.
Se falamos das duas primeiras, é claro que os salários vão baixar. Por exemplo, o crescente desemprego nas actividades associadas aos não-transaccionáveis é disso exemplo. Não é uma questão de competitividade, é uma questão de sobrevivência num mercado em forte retracção.
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Contudo, a mim interessa-me o caso da economia que exporta. Normalmente, diz-se que os salários do privado têm de baixar para que o país fique mais competitivo. 
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É nesse contexto que surge o argumento dos CUTs. A Alemanha, esse modelo de economia exportadora consegue ter CUTs muito mais baixos do que Portugal.
Perante o gráfico há alguns que até acham que os salários alemães diminuíram durante a última década (entre 2002 e 2007 cresceram 9% e, no entanto, os CUTs até baixaram!!!)
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Qual a evolução salarial?
Então, como se calculam os CUTs?
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A definição de CUT é a de um rácio entre a compensação total recebida pelos trabalhadores, o seu salário, e a produtividade do seu trabalho. Se assumirmos que o numerador se mede em euros e que o denominador se mede em número de pares de sapatos por trabalhador, o CUT mede-se em euros por par de sapatos, ou seja, o custo laboral total por unidade de saídas, de produto. 
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BTW, o que esta definição não tem em conta é o valor potencial de cada par de sapatos. Normalmente, quanto mais valor potencial tem um par de sapatos, mais tempo demora a produzir.
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Quando se comparam os CUTs de vários países, não se podem comparar euros por pares de sapatos com euros por automóveis. Assim, o rácio é entre salários e o valor do que foi produzido com esses salários. 
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Logo, mesmo que os salários subam, os CUTs podem baixar se os produtos produzidos tiverem um valor potencial que tenha crescido mais do que os salários. Ou seja, se a produtividade crescer mais depressa do que os custos do trabalho.
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Realmente a Alemanha aponta o caminho, em vez de reduzir salários, aumentar o valor potencial do que se produz.

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