segunda-feira, outubro 24, 2011

A farmácia do futuro (parte IV)

Continuado da parte III.
.
""A situação para que fomos arrastados pela crise do país obriga-nos a encarar o futuro de forma diferente. A nossa prioridade tem de ser agora, inevitavelmente, a redução dos custos operacionais das farmácias. Não é fácil, mas não temos alternativa para procurar garantir a sobrevivência das farmácias (...) É necessária uma maior atenção aos aspectos financeiros, em particular à negociação com os fornecedores e com as instituições de crédito", sublinha o programa de acção.
.
O novo órgão da ANF promete ainda reduzir o serviço de turnos e respectivos encargos, eliminar o horário semanal mínimo de 50 horas e a obrigatoriedade de um segundo farmacêutico, e criar uma lista de medicamentos não sujeitos a receita médica de venda exclusiva em farmácia."
.
Reduzir custos operacionais... esse é o caminho mais percorrido, mas não é a única alternativa.
.
Aliás, seguindo por essa via até ocorre perguntar porquê ter um farmacêutico? Por que não ter uma máquina dispensadora de medicamentos semelhante às do tabaco nos cafés? Bastava-lhe ler a receita.
.
Grande parte do capítulo I do livro "Demand - Creating What People Love Before They Know They Want It" de Adrian Slywotzky é dedicado ao caso da americana Wegman.
.
Quando as empresas competem pelo preço mais baixo sem estarem preparadas para isso o destino é inexorável como relata este exemplo "Crise e grandes superfícies estão a matar a Rua Direita de Viseu".
.
Em Maio de 1969 Daniel Wegman entregava a sua tese na universidade, nela previa que a Wal-Mart ia dominar o sector do retalho. E quando acabou de bater à máquina a última página, encostou-se à cadeira e caiu na real... quais as implicações do seu estudo para a a meia-dúzia de mercearias da família?
.
O que Slywotzky conta no livro é o caminho menos percorrido. A primeira medida concreta foi... aumentar o salário dos trabalhadores. Gente satisfeita, gente que não vai embora à primeira, gente empenhada no sucesso do seu posto de trabalho. Depois, o capítulo ilustra com n exemplos como a Wegman optou, não pela redução dos custos para competir, mas pelo aumento da experiência de compra.
.
Desconfio que haverá alguma maior liberalização no sector das farmácias, se tal acontecer será uma oportunidade para quem tiver um olhar diferente. No fundo, será a aplicação de pensamento estratégico ao sector.
.
Haverá os que acham e que não conseguem ver a farmácia como mais do que uma "máquina de tabaco" sofisticada e, haverá alguns, sempre poucos, que conseguirão ver mais à frente. Eu, que só sou um curioso, e que posso estar enganado, não consigo deixar de pensar na farmácia do futuro como o promotor número um da saúde (como refere o @boticando). Quando tudo o resto retroceder por causa da falta de dinheiro, o que vai restar? A iniciativa privada!
.
Onde está a iniciativa privada a sério na saúde?
Qual o destino dos medicamentos, blockbusters para todos ou medicamentos personalizados?
.
Em vez de defender o passado, a ANF devia estar a lutar para trocar a perda de "privilégios" do passado, por abertura de oportunidades para o futuro.
.
Ei, mas eu só sou um curioso que gosta de experimentar cenários.

Trecho retirado de "João Cordeiro mantém-se na direcção da Associação de Farmácias"

4 comentários:

@boticando disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
@boticando disse...

Gostei muito da sua reflexão. Temos vivido com um modelo de farmácia que tem funcionado e isso levou a não haver a necessidade de procurar outros. O momento que vivemos é ideal para procurar novas soluções, em todos os setores da sociedade, por são necessárias. No meio de tanta dificuldade existem oportunidade de melhorar o futuro. Gostei muito da sua reflexão.
(Removi o meu comentário anterior porque ficou muito comprido...).

Azrael disse...

Também gostei e estou de acordo. No entanto tenho que referir que o preço dos medicamentos (que são a razão de existir a farmácia e cerca de 80% do seu mercado) é fixado pelo estado, tal como a margem de lucro que a farmácia deles obtém.

Portanto, subir na escala de valor parece-me ser possível apenas pelo serviço. Não pelos produtos.

CCz disse...

Pelo serviço, absolutamente de acordo.
.
Vão ter de estudar Kanheman e Tversky por causa do priming, para habituar os clientes a pagarem os serviços que agora dão nas farmácias.