domingo, fevereiro 06, 2011

Especulação à volta da carne de porco

Esta história sobre a Raporal "O novo negócio da Raporal é tornar mais saborosa a carne que comemos" fez-me recordar a história dos frangos Purdue.
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Como é que uma empresa cria, entrega e captura valor?
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"Todos os dias saem da fábrica das instalações da Raporal, nos arredores do Montijo, quatro camiões em direcção aos armazéns da Jerónimo Martins (JM). Em cada um seguem 20 a 25 toneladas de carne de porco, mas não uma carne qualquer. A empresa chama-lhe o "porco com mais sabor", mas, na realidade, é o resultado de um projecto que demorou três anos, custou 20 milhões de euros e foi premiado recentemente num concurso nacional, o Portugal Vencedor"
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Não conheço a Raporal e, por isso, o que escrevo aqui é pura especulação.
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Será que a Raporal vai conseguir obter o retorno adequado daquele investimento que fez?
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"A carne, que se diz mais saborosa e tenra, é vendida sob a marca Pingo Doce nas lojas da JM (Pingo Doce, Feira Nova, Recheio e Lidosol), graças a um contrato de cinco anos no valor de 250 milhões de euros. E tudo começou numa simples troca de palavras."
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Ou seja, os donos da prateleira continuam a controlar a prateleira.
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Os consumidores não vão conhecer a marca Raporal...
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Espero que a Raporal tenha o retorno adequado do investimento que fez... mas é um risco ter um produto inovador, um produto que tem de ser mais caro para poder pagar o investimento e aumentar a margem de quem arriscou, e escoá-lo através de uma marca que todos os dias nos canta, nos media, que o preço é baixo o ano inteiro...
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Ou será que é o Pingo Doce que está equivocado? A publicidade não é sobre o melhor produto, é sobre o produto mais barato...
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O mais certo, e aqui especulo, é a Raporal, não ter tido a paciência estratégica para fazer o by-pass inicial à grande distribuição e esperar que o consumidor viesse a exigir a marca Raporal na grande distribuição. A frangos Purdue é uma grande lição!

6 comentários:

nuno disse...

Em relação a vendas com esse tipo de "gente" (grande distribuição) há estórias mt engraçadas para contar.
A semana passada estive numa empresa que trabalhou para uma dessas instituições: "durante 10 anos vendemos para eles, todos os anos havia uma promoção de 3%, ou era por topo de estante, ou era por promoção continua... às vezes falavam de coisas que nós nem sabíamos a que se estavam a referir. No fim tavamos a vender 30% abaixo do preço inicial e fomos considerados sempre um dos 10 melhores fornecedores, sendo que em 3 fomos o melhor fornecedor. Todos os anos insistam connosco para aumentarmos a fabrica que se fizéssemos investimentos que nos aumentavam o preço. Nunca o acabámos por fazer, pk sabiamos que nos íamos endividar e passávamos a depender quase unicamente das encomendas deles, ou seja, ficávamos nas mãos deles. Decidimos deixar de vender, voltámo-nos para o mercado exterior, e estamos a vender muito acima do preço praticado antes, com niveis de encomendas sempre crescentes, agora sim, vamos investir na nova linha de produção."
Há inumeros casos de empresas que foram na cantiga deles, investiram em produção para lhes dar resposta e a seguir rebentam-lhes as margens impondo preços extremamente baixos pk sabem que há a dependência das encomendas deles. Quem puder, que lhes fuja. (minha opinião claro)

Jonh disse...

Concordo com a vossa opinião. Realmente: inovação, investimento, qualidade, sabor, diferenciação (características daquela carne) não jogam muio bem com preço baixo.

Como disse o Nuno, é provável que as margens comecem a ficar cada vez mais reduzidas e que a empresa produtora fique de mãos e pés atados: com investimento que quer rentabilizar mas que não consegue devido à pressão dos preços baixos.

Tenho pensado ultimamente, muito por culpa dos anúncios constantes do pingo doce, se teria sido boa ideia a JM ter acabado com a sigla Feira Nova. O Pingo Doce que há uns anos atrás se diferenciava um pouco pela qualidade, agora entrou no negócio do preço. Já não há em portugal empresas (grandes) empresas de distribuição que não lutem por qualquer outra coisa que não seja o preço

Que acham acerca desta estratégia da Gerónimo Martins, em acabar com o Feira Nova e, desta forma, uniformizar a sua estratégia (pingo Doce) exclusivamente no preço?

Jonh disse...

Onde esta "gerónimo", como é óbvio, queria dizer "Jerónimo"

CCz disse...

Nuno, bom exemplo. O problema é as empresas meterem-se a lidar com clientes sem estarem preparadas para se defenderem. Muitas nem têm uma contabilidade que as informe de que estão a vender abaixo do custo e ficam excitadas com o interesse que as grandes empresas depositam nelas. É quase um caso de pedofilia empresarial... tubarões batidos no negócio do preço a seduzirem inocentes empresas...

CCz disse...

John, o seu comentário fez-me logo recordar este postal http://balancedscorecard.blogspot.com/2009/02/proposta-de-valor-e-marca.html que linka para outro mais antigo.
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A grande distribuição está sujeita ao atractor preço. Julgo que só com a entrada de novos players é que haverá recurso a outras propostas de valor. Continentes, Pingos Doce, Jumbos, FNACs, Staples, Maxmats, ... tudo preço.

andrecruzzzz disse...

tb li esta noticia e fiquei a pensar nos prós e contras..
que rentabilidades esperam a ter para considerarem satisfatório ficarem numa posição tão sub-alterna?
20 milhoes invest?
contrato a apenas 5 anos?
a raporal pode ficar bem rapada..
é óbvio q s a noticia fosse um pouco menos propagandistica se calhar perceberíamos melhor..

apesar de tudo, JM parece-me saber melhor o q faz e p onde quer ir, tv por estar concentrada somente na distribuição
já a sonae, sempre me pareceu actuar na lógica do winner takes all and there can be only one..e aqui nunca mas nunca concordei c esta estratégia. perde-se mais do q se ganha. e fica tanto por descobrir..