sexta-feira, novembro 19, 2010

É inútil...

Os modelos mentais são terríveis, agarram-se à nossa mente e castram-nos a imaginação.
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Que sentido faz um funcionário do Estado central dizer isto "Portugal deve seguir uma política de "contenção e disciplina" salarial":
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"toda a actividade económica portuguesa deve seguir uma política de "contenção e disciplina" salarial para que a competitividade do país não seja prejudicada"
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1º Estes políticos de todas as cores e da oposição e da situação não têm direcção, decidem para onde está o vento, não há pensamento estratégico... política de carrinho de choque, muito barulho, muito movimento, mas na média não se sai do sítio.
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2º O ministro olha para a economia como:
Um bloco homogéneo... e só sabe mexer na alavanca do custo para aumentar a produtividade, ou seja, está algemado mentalmente ao jogo do gato e do rato (parte I, parte II, parte III, parte IV, parte V, parte VI, parte VII)
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3º O ministro não faz a mínima ideia de como competir num país com moeda forte (parte I a V, parte VI)
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O ministro e os macroeconomistas foram educados num mundo onde aprenderam:

  • o mercado é composto por um conjunto de agentes;
  • os agentes são racionais;
  • os agentes tomam decisões racionais; 
  • e outras tretas do género, simplificações usadas para poder modelar a realidade.
Por isso, não conseguem perceber o optimismo não documentado, por que o modelo não permite jogar xadrez contra ele próprio, as regras racionais são conhecidas e as pessoas seguem as regras racionalmente... logo, não é possível jogar contra si próprio.
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Agora reparem, esta manhã estive numa reunião onde alguém esteve em Lisboa num evento mundial ligado ao marketing que contou a seguinte história:
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Uma empresa americana com 3 anos factura 40 milhões de dólares a produzir embalagens com 3 meias descasadas. As meninas de 12 anos pedem às mamãs para comprarem as meias e para... pesquisarem num rede social quem é que tem meias que façam par com as que elas têm em casa...
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Podem voltar a ler, eu sei o que escrevi... pois, racionalidade... LOL 
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E está uma economia nas mãos de gente que não acompanha a evolução do campeonato económico e quer não perder jogando com as tácticas do tempo do Eusébio e do Coluna. 

5 comentários:

Jose Silva disse...

Brilhante Carlos, brilhante.

«e outras tretas do género, simplificações usadas para poder modelar a realidade».

É verdade e é de facto lamentável que os políticos, comentadeiros e mainstream sejam tão ignorantes. Temos que voltar a falar da informação económica.

Um funcionário meu teve um reunião hoje de manhã com vário doutorados em tecnologia de um instituto público com alum mérito. Ficamos preplexos com o facto de aparentemente sabermos, ao fim de algumas semanas de pesquisa, mais do que eles, no nosso assunto específico.
O que dá azo para optimismo não documentado sobre as inovações que queremos implementar. O que seria se todas as PMES seguissem este exemplo...

Da facto é necessário muita cautela antes de se preferir receitas únicas. Aliás, proferir nesta altura receitas únicas é um indicador de profunda ignorância.

Unknown disse...

O tempo é escasso, mas essa citação faz-me lembrar a política do rigor. Desde quando é o rigor é alienável?

Ricciardi disse...

Perfeitamente de acordo.

CCz disse...

"Um funcionário meu teve um reunião hoje de manhã com vário doutorados em tecnologia de um instituto público com algum mérito. Ficamos perplexos com o facto de aparentemente sabermos, ao fim de algumas semanas de pesquisa, mais do que eles, no nosso assunto específico."
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A mim não me surpreende.
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A paixão é inversamente proporcional ao tamanho da organização.
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O que ganha (não estou a falar de dinheiro) um investigador num instituto público com um projecto de investigação? Ou é um funcionário, ou é um apaixonado fanático. Se for um funcionário competente... tem um ritmo que não se compadece com o ritmo actual da vida económica. Depois, é estrangulado, estiolado e humilhado na sua "criatividade" por chefes políticos, regras obsoletas, regras absurdas, equipamentos desadequados, timmings do tempo em que as encomendas chegavam por correio.
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E depois, o foco, a concentração é muito importante.
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"O que seria se todas as PMES seguissem este exemplo..."
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Mas José... esse é que deve ser a missão de quem neste país já viu a luz, de quem já teve a sua experiência de Damasco... pregar que "YES WE CAN" não para copiar, não para impor, mas para mostrar e fazer sentir que não estamos condenados ao mundo do preço e dos custos.
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E não é preciso investir milhões... essa é a abordagem mais comum por que é a abordagem de quem quer desafiar os incumbentes sendo como eles, atacando no seu campo preferido. O truque está em não seguir as práticas e os mercados em que os incumbentes possam dar cartas.
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MOSTRAR e fazer SENTIR é mais poderoso que dezenas de sermões de consultores, professores e ministros.

CCz disse...

E estamos condenados a isto... http://tv1.rtp.pt/noticias/index.php?t=Joao-Duque-acredita-que-setor-privado-vai-acompanhar-reducao-dos-salarios-na-administracao-publica.rtp&article=393446&layout=10&visual=3&tm=6