sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Por favor, alguém que conte a verdade aos agricultores. Não os tratem como criancinhas.

Por vezes a realidade brinda-nos com estórias que ilustram perfeitamente as teorias de Pedro Arroja sobre as sociedades católicas e protestantes.
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Quando morre um familiar próximo, os pais tentam esconder o facto às suas criancinhas. Normalmente optam por não revelar a verdade de chofre, e desviam a conversa e falam de viagens e blábláblá.
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O semanário Vida Económica publicado esta semana traz um desses casos. Um caso em que ninguém... ninguém com poder e autoridade, tem a coragem de contar a verdade aos adultos, aos agricultores. No artigo "Jaime Silva contestado pelos produtores de milho" pode ler-se o protesto dos adultos (de idade fisiológica) contra a realidade:
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"Em causa está o facto de o preço dos adubos ter aumentado 100%, o gasóleo 40% e os pesticidas mais de 50%. E face a estes aumentos o preço a que o milho é vendido mantém-se exactamente igual ao que é praticado desde 1989."
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Por que é que não explicam aos agricultores a realidade? Por que é que não explicam aos agricultores o que significa produzir uma commodity? Por que é que os agricultores devem ser apoiados e os operários da antiga Quimigal em Estarreja que produziam ácido sulfúrico não?
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" «É um cenário extremamente difícil para os produtores», afiança Luís Vasconcellos e Souza. O mesmo responsável acrescenta que «há muito tempo que o Estado não investe no sector» e destaca não se conformar com a resposta de que «não há dinheiro». «Há fundos comunitários específicos para o sector», sublinha para acrescentar de imediato: «não sei o que é feito ao dinheiro». Jaime Silva é alvo de críticas directas: «é uma pessoa muito inteligente mas que não percebe nada do sector». O responsável da Associação Nacional de Produtores de Milho abrange a sua crítica ao afirmar que «não é só no sector da agricultura que o ministro está deslocalizado»."
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O que será, o que significará este «há muito tempo que o Estado não investe no sector»?
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Se os agricultores produzem um produto básico, standard, indiferenciado, vendido a granel, como é que os agricultores querem fazer face à realidade?
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Se não fosse a crise financeira que atravessamos e que secou o capital, dentro de dois anos teríamos umas empresas na Rússia a produzir autênticos oceanos de cereal em terrenos aráveis que estão em pousio e que se preparavam para ser trabalhados (Estratégia na agricultura ).
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Como é que os agricultores portugueses iriam fazer face a essas produções concorrentes?
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Enquanto não lhes contarem a verdade eles nunca vão procurar alternativas, ou seja, fazer o mesmo que fez o sector do calçado para voltar a ter sucesso.

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