terça-feira, fevereiro 05, 2008

Será que devemos desesperar? Onde entra a criação de valor?

"Patrões querem despedir para renovar quadros" título de um artigo publicado no DN de hoje.

O lead do artigo explica "A Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) quer que a renovação do quadro de pessoal de uma empresa constitua fundamento para o despedimento, sustentando que, por vezes, as empresas carecem de trabalhadores diferentes dos que tem e não de uma redução dos quadros."

Sei que a nossa legislação laboral é um derivado de um tempo que prometia amanhãs que cantam, de um tempo em que os asiáticos eram destinatários das nossas esmolas, de um tempo em que existia moeda própria. Sintomas mais do que suficientes para sustentar a hipótese de que tem de ser melhorada.
No entanto, não consigo deixar de associar este desejo da CIP ao "Cost Cutting Nigthmare da Circuit City".

Conheço várias empresas, trabalhei com várias empresas, que no âmbito de uma refundação estratégica tiveram de propor a rescisão a grupos específicos de trabalhadores.
Por exemplo, uma empresa que abandonou o negócio do preço, e deixou de produzir e vender artigos básicos, que eram promovidos por vendedores sem formação académica. Ao avançar para a produção e venda de artigos técnicos, precisou de promotores que pudessem lidar tecnicamente com gabinetes de engenharia ou de arquitectura. Sem conflitos, e com a lei actual, as rescisões fizeram-se e a empresa até contratou mais pessoas, e com um salário mais elevado, do que as que "despediu".

Preocupa-me que este tipo de reivindicação esconda um enquistamento em propostas de valor obsoletas, preocupa-me que este tipo de exigência ilustre a continuação do enfoque no denominador da equação da produtividade, na redução de custos. Quando é que as empresas vão perceber de vez, que não podem competir no custo com a China, a Roménia, ou Marrocos?!!!

No limite, a aplicação generalizada desta reivindicação, permitiria a redução líquida dos salários, tão cara a vários reputados economistas da nossa praça. E permitiria dourar a pílula por mais meia-dúzia de anos... só que a redução de custos tem limites!

Isto faz-me recordar o caso recente da Maconde... no artigo que li na altura no JN, o sindicalista entrevistado foi o único que teve estofo estratégico no discurso.

Se calhar sou eu que estou a ficar paranóico e vejo coisas onde elas não existem!
Por que é que tão poucas empresas, por que é que a CIP não massacra os seus sócios com a palavra valor, com a necessidade de mudar de proposta de valor e apostar na criação de valor?

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