segunda-feira, novembro 12, 2007

Esquizofrenia social

Ás segundas, terças e quartas, prega-se contra o paradigma dos baixos salários.
Ás quintas, sextas e sábados, celebra-se a produtividade conseguida à custa dos baixos salários.
No Público de hoje, o artigo "Produtividade portuguesa cresce mais que a da zona euro pela primeira vez desde 1999", assinado por Sérgio Aníbal.
"Salários reais continuam a crescer a um ritmo muito moderado e abaixo da média europeia, o que leva as empresas a recuperarem competitividade"
...
"A explicação para este brilharete não está, na sua maioria, na aceleração do produto em Portugal. O PIB português até volta este ano a crescer bastante menos que a média europeia."
"Quando comparados com um grupo de 35 países industrializados, os custos unitários de trabalho (que medem aquilo que as empresas gastam para produzir uma unidade de produto) deverão reduzir-se este ano em 0,8 por cento, a descida mais forte desde 1971, primeiro ano para o qual a Comissão tem dados disponíveis."
Assim, estaremos condenados à simples sobrevivência e a um progressivo empobrecimento. Para quando a mudança de página? Para quando o momento de epifania, em que uma massa crítica acordará, para a necessidade de apostar na criação de valor e, na sua vantagem sobre a simples necessidade de poupar?
Basta atentar nos números no artigo “Managing Price, Gaining Profit” de Michael V. Marn & Robert L. Rosiello, em Setembro-Outubro de 1992. que reproduzo aqui.

1 comentário:

Pedro Braz Teixeira disse...

Estamos em presença de má edição. A ideia de que a "Produtividade cresce à custa de salários baixos", que aparece na última pág., não se encontra no artigo de base, na p. 39. A ideia que aí encontramos é que um crescimento baixo dos salários vai permitir retomar a competitividade. Aparece também referido, embora talvez merecesse uma ênfase maior, que desde meados dos anos 90, a economia sofreu uma erosão brutal da competitividade, com a disparidade entre crescimentos dos salários reais e da produtividade a superar os 20% em termos acumulados e a perda de quota de mercado no exterior foi também superior a 20% em termos acumulados. A competitividade tem uma componente de gestão, certamente, mas tem também uma componente macroeconómica.